Avenida Brasil X Revenge

Contém Spoilers

Quando sua história começou a ser contada, Avenida Brasil recebeu todo tipo de crítica; boas, ruins, e acima de tudo, começou a ser comparada a algumas outras histórias, especialmente ao enredo de uma série americana que havia estreado pouco tempo antes da novela, e também contava a trajetória de uma jovem em busca de vingança.

A verdade é que as semelhanças pareciam ser muitas entre as duas histórias, e o autor de Avenida Brasi, João Emanuel Carneiro, nunca negou que se inspirou e outras obras para compor seus personagens e suas tramas, inclusive chegou a citar a obra “O conde de montecristo”, de Alexandre Dumas.

Ontem, dia 19/10, a novela exibiu seu capitulo derradeiro, enquanto a série Revenge se encontra na sua segunda temporada, em exibição no canal ABC. Com o fim da novela, nós do Guia das Séries decidimos fazer uma comparação entre as histórias dessas duas tramas, e definir semelhanças e diferenças, tentando entender qual é o fator comum que fez com que nos apaixonássemos tanto pela novela brasileira quanto pela série americana.

AMBIENTAÇÃO DAS TRAMAS

Enquanto Avenida Brasil nos apresenta um cenário popular, Revenge nos mostrou que nem os pobres são pobres nos Hamptons. Acredito que essa seja uma das principais diferenças das tramas, pois Avenida Brasil nos insere em um contexto simples, um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, onde há todo tipo de pessoa e onde qualquer situação pode ocorrer. Já em Revenge, os ambientes são todos controlados, e o requinte do lugar onde a historia é ambientada é correspondente ao requinte das ações das protagonistas, deixando claro que todo esse controle sob o cenário e o excesso de recursos disponíveis são as peças chave para que a trama tenha ares críveis, e para que as motivações de Emily e Victoria se embasem nessa soberba, que é tão evidente e presente na vida de todos os personagens.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

Rita/Nina x Amanda/Emily 

As duas personagens se mostram desde o começo como personagens de personalidade forte, e que tiveram uma infância difícil, por culpa de mulheres que se tornariam suas nêmesis no futuro.

Rita (Mel Maia /Débora Falabella) sempre foi muito proativa e defendia seus interesses com unhas e dentes, chegando a cuspir na cara da madrasta má, em uma situação em que foi humilhada por ela. Já Amanda (Crystal Bell/Emily Van de Camp), que conhecemos através de flashbacks da personagem já adulta, nos foi mostrada como uma criança assustada diante de tudo o que estava vivendo, mas que também teve seus momentos de rebeldia, como ao contestar a culpa do pai diante das acusações que ele estava sofrendo. 

Ambas tiveram a infância comprometida e roubada, Rita foi viver em um lixão, abandonada por sua madrasta, Carminha, enquanto Amanda cresceu em um reformatório, por não ter familiares, já que o pai estava preso, incriminado por um crime que não cometeu, e assassinado na prisão.

Na fase adulta das personagens, tanto Rita, que virou Nina, e Amanda, que virou Emily, voltam para se vingar de seus malfeitores, e ambas se infiltram na casa das famílias onde os culpados de suas desgraças se encontram. Emily tinha um plano muito bem traçado, treinou artes marciais, e se preparou para o que estava por vir; Nina parecia também ter um plano preparado, mas a historia mostrou que seu plano era muito mais simplório e a personagem não estava tão bem preparada para o contra-ataque de Carminha.

As duas se deixaram influenciar por elementos externos a sua vingança, e chegaram a se perder no seu caminho. Emily continua focada em sua vingança, com algumas alterações no plano, mas em Avenida Brasil, Nina se perdeu completamente por culpa de seus sentimentos e despreparo, e apesar de ter tido seus momentos de guilty pleasure torturando psicologicamente Carminha, seu plano de vingança não foi tão efetivo, pois a megera acabou sendo desmascarada por outra pessoa.

Victoria Grayson X Carmen Lucia

Carminha (Adriana Esteves) teve uma infância difícil, e cresceu na vida através de golpes e mais golpes, inclusive o golpe em que roubou o pai de Rita, com o qual estava casada. Mas a sorte grande da vilã veio quando o Genésio foi atropelado acidentalmente por Tufão, um rico jogador de futebol. As conseqüências desse ato para ele foram inimagináveis, pois Carminha o seduziu e se casou com ele, mas sem abandonar seu amante Max, que se casou com a irmã do jogador.

Victoria Grayson (Madeleine Stowe) também era uma moça simples e sem recursos, mas que se casou com o milionário Conrad Grayson, e desde então teve acesso ao mundo que sempre sonhou. Vivendo dentro de um ninho de cobras, ela percebeu que precisaria se tornar uma também (ou será que sempre foi?) para sobreviver, e assim se tornou a rainha da manipulação, conseguindo sempre se manter por cima de todos, agindo sempre com muita frieza e dissimulação. Em algum momento do passado Victoria se apaixonou por 

David Clarke, um funcionário da empresa de seu marido que era seu vizinho, e ambos viveram um tórrido romance, mas que foi interrompido por seu marido, Conrad, que envolvido com um grupo terrorista que lavava dinheiro em sua companhia, incriminou David, que foi condenado e depois assassinado na prisão a mando de Conrad. Victoria estava ciente de toda a armação de seu marido, e compactuou com tudo.

Além dessas coincidências entre as personagens, podemos citar também o fato de ambas terem dois filhos, e também de o amor por seus amantes ter sido o calcanhar de Aquiles de ambas as megeras.

Porém, algumas diferenças entre elas devem ser destacadas: Victoria se tornou uma mulher com muita classe, agindo por baixo dos panos, através de insinuações e chantagens, enquanto Carminha nunca perdeu seus trejeitos simplórios, e sua maneira de agir sempre foi mais arriscada, pois ela se comprometia muito em seus planos, e confiava plenamente em Max, seu amante e parceiro em trambiques.

Betânia X Emily Thorne/Amanda Clarke

Betânia era amiga de Rita no lixo, e aceitou fingir ser a Rita adulta para enganar Carminha. A personagem não teve muita influencia na trama principal, mas serviu aos propósitos da vingança de Nina/Rita.

Emily Thorne/Amanda Clarke (Margarita Levieva) era amiga de Amanda no reformatório, e aceitou a proposta de trocar de identidade e ajudar a amiga a ter um novo nome. Ela não sabia do plano de vingança da companheira, mas acabou se envolvendo na trama e conquistou um espaço relevante. Emily acabou se apaixonando pelo amor de infância da verdadeira Amanda, Jack Porter.

Jorginho Tufão X Jack Porter X Daniel Grayson

A principal característica comum aos três personagens é a chatice.

Relaciono Jorginho (Cauã Reymond) a dois personagens em Revenge, por que além de ele ser o amor de infância de Rita/Nina, que o conheceu no lixão, também serviu como uma ferramenta para sua vingança. É filho de Carminha, que o abandonou no lixão por não ter condições de criá-lo, mas foi resgatado assim que ela se casou com Tufão.

Jack Porter (Nick Wechsler) era o amor de infância de Emily, e apesar de não estar envolvido diretamente no plano de vingança, as ações da protagonista sempre respingam na vida do rapaz, como, por exemplo, o fato de ele estar envolvido amorosamente com a Fake Amanda.

Daniel Grayson (Josh Bowman), filho de Victoria, é exclusivamente uma ferramenta de vingança no plano de Emily, que fingiu se envolver emocionalmente somente para ter acesso à casa dos Graysons. Minha opinião é que Emily se afeiçoou sim ao rapaz, e que isso a atrapalhou em seu plano. Atualmente ambos estão separados, mas ela continua abusando das fragilidades do rapaz e usando-o quando necessário para efetivar sua vingança.

Repito mais uma vez: a principal característica comum aos três personagens é a chatice.

Nolan Ross X Mãe Lucinda

Ambas as personagens são “cúmplices” das protagonistas Rita/Nina e Amanda/Emily, e as ajudam em sua vingança, embora, apesar de tudo, tenham excelente caráter, e nunca sujem suas mãos efetivamente.

Pronto, somente isso de semelhança, pois enquanto Nolan (Gabriel Mann) é um multimilionário, Mãe Lucinda (Vera Holtz) vive no lixão e cuida das crianças ali abandonadas.

Tufão

Não consegui relacionar esse personagem com nenhum outro em Revenge, pois não encontrei um correspondente na série americana. O jogador mostrou um caráter muito integro desde o começo da história, e assim se manteve até o fim. Ponto para João Emanuel Carlos que criou um personagem carismático e caiu nas graças do publico.

Agatha Tufão X Charlotte Grayson

Podemos relacionar as duas personagens por não terem um papel tão crucial na trama, mas gerarem bons momentos.

As duas são filhas das vilãs da história, e ambas são fruto das traições das mal feitoras. E além de tudo, as duas apresentam vícios durante a trama, Agatha (Ana Karolina Lannes) é viciada em comer, e Charlotte (Christa B. Allen) é viciada em analgésicos. (não me crucifiquem por fazer uma piadinha politicamente incorreta sobre Agatha)

REFERENCIAS POP

Um dos grandes trunfos de Avenida Brasil foi justamente as constantes “referências” a momentos célebres do cinema, e também a cultura pop no geral. Isso fez a trama ser inovadora e muito celebrada pela critica. A coragem do autor de colocar cenas fortes, como a cena onde Rita/Nina é enterrada viva, foi claramente inspirada em Kill Bill, e a cena da morte de Max, o amante de Carminha, dizem por ai que em sua essência lembra muito uma seqüência de Revenge (Quem diria!), onde Daniel esta lutando com um ex-amigo em uma praia, é nocauteado por um ma terceira pessoa, e ao despertar, seu oponente está morto, e não se sabe quem o matou. Outras referências cinematográficas muito explicitas em Avenida Brasil são ao filme “Pequena Miss Sunshine”, quando a família de Tufão saiu rumo ao Divino dirigindo uma kombi azul quase igual àquela amarela do filme, e que, assim como no filme, precisou ser empurrada; e também o filme “Atração Fatal” teve uma homenagem feita na novela. Houve uma cena onde Nina pede uma massagem no pescoço para Carminha, enquanto se delicia na banheira da casa da víbora. Após ser quase afogada pela vilã, Nina, que já parecia morta, saltou para fora da água com força suficiente para contra-atacar, quase como acontece com Alex, a louca personagem de Glenn Close no filme. As musicas brasileiras da trilha sonora da novela foram sucesso atrás de sucesso, e isso mostra como até nesse sentido a trama estava bem alinhada com a cultura popular do país. 

Em Revenge, as referências culturais ficam a cargo principalmente do personagem Nolan Ross, que é um geek assumido, e vive comparando algumas situações com sucessos do cinema (o capítulo da saga Star Wars “A Ameaça fantasma” já foi citado, por exemplo. Acredito que por ser ambientada em um cenário mais “surreal” e pela curta duração de seus episódios, não há muito espaço para essas referências, além dos comentários feitos por Nolan, mas de vez em quando uma alusão ao “American Way of Life” é feita, e feriados americanos, como o “Memorial Day”, são frequentemente citados na série.

E apesar de toda as tramas, armações e mentiras, acredito que a principal característica comum de Revenge e Avenida Brasil é a simplicidade com que as coisas acontecem, pois apesar de tudo parecer se embasar em planos mirabolantes e jogadas estratégicas, o que realmente move esses personagens são os sentimentos mais simples e natos do ser humano, o ódio, ambição, vingança, amor. A dubiedade das ações de alguns personagens, e a incorruptibilidade de outros nos mostra que a natureza do ser humano ainda é um mistério, e que esse é um tema que agrada muito ao publico em geral. Quando uma história nos oferece a oportunidade de nos reconhecermos em um personagem, ou utilizar outro como bode expiatório para medos e inseguranças, ela se torna simplesmente irresistível, assim como foi Avenida Brasil, e como é Revenge.

Para os órfãos da novela, a série americana é uma boa pedida.

Essa postagem é uma contribuição  do GUIA DAS SÉRIES.