Um episódio cheio de decepções.
Sim, não era isso o que eu esperava do penúltimo episódio da
primeira temporada da série. Depois de toda a emoção que foi o sexto episódio e
a tensão levantada com a aproximação do navio inglês Scarborough eu imaginei
que teríamos um desfecho melhor para a fuga do Walrus. Porém, o que vemos é
nada.
Nada, a série simplesmente cortou o clima pela raiz e fomos
levados direto para o momento em que o Flint já se encontrava dando o debriefing
da missão para Eleanor. Isso foi um corte de tesão mais violento do que a cena
em que a Anne e o Rackham tentavam compartilhar um momento especial juntos.
A série passou cinco episódios trabalhando alianças e
maquinações para nos preparar para o acontecimento final da temporada. O justo para com a audiência seria se a série
nesse momento aumentasse mais ainda o ritmo e o deixasse próximo a ser frenético.
Condizente com o animo que os próprios piratas deveriam se encontrar antes
desse confronto.
Decepção também foi o que Eleanor sentiu. Mr. Scott não só a
traiu uma vez como decidiu a abandonar novamente. Nos momentos em que ela se
viu com ele ao seu lado novamente ficou clara a aura de felicidade e alivio.
Apesar de ser forte, Eleanor ainda precisa do Scott que além de representar uma
figura paterna para ela mais forte do que o próprio pai, ainda é responsável
por mantê-la sã. Imagino que logo o jogo de poder irá consumir o bom que exista
em Elanor e Scott seria a forma disso
não acontecer. Ou seja, ele estar longe poderá nos dar uma personagem muito
mais interessante do que ele lá, a colocando debaixo de suas asas.
Eu gostei da maneira com que o Flint foi desenvolvido, ou
vem sendo desenvolvido até agora. Ele não é só um anti-herói. Ele é um
praticamente um vilão. E será enquanto a série não nos dizer o que realmente
houve em seu passado com a Sra Barlow. Ao ser confrontado pelo Gates ele
responde todas as perguntas com outras perguntas, se desvencilhando de qualquer
responsabilidade pelo que aconteceu com o Billy e até mesmo justificando que
ele roubar dos seus homens é um favor. Flint é um sociopata, seu desprezo pelos
outros é evidente e fica cada vez mais destacado. Em todos os momentos em que ele foi
confrontado o capitão tentou virar a situação de uma forma a fazer as pessoas
abraçarem sua causa. Foi assim com o Billy, com a Eleanor e com o Gates. No
último caso ele só acha que foi bem sucedido. E bem, com a Barlow ele só tenta,
mas de sociopatia aquela lá entende muito bem, o padre chorão que o diga.
Logo, a série levanta questões que vão além do sucesso da
missão de saque. Nós precisamos saber quem é o capitão Flint. Quem é esse homem
e o que ele realmente pretende? Fazer um reino em Nassau a sua imagem e
semelhança? Vingar-se? Muito mais do que saber se esses piratas vão conseguir
ou não saquear o Urca de Lima, eu quero saber o que Flint fará com o resultado.
Sendo o sucesso, ele irá roubar uma parte do saque para si? Sendo o fracasso,
quão fundo ele cairá?
Fiquei um pouco chateado também com o que aconteceu com os
escravos que estavam no navio. Eles ajudaram o Flint a conquistar o navio e a
paga pelo serviço prestado é voltar a escravidão e serem oferecidos para gerar
lucro? É, essa série não é como as outras e os arquétipos de heroísmo e bondade
não devem ser levados em conta aqui.
E é com muito orgulho que eu anuncio que ao que tudo indica,
a boa e velha Max está de volta. Ou pelo menos se preparando para um retorno
triunfal. Isso era o mínimo que a série poderia fazer por nós. Depois de
transformar a melhor personagem da série em algo de dar pena, a faceta
inteligente e sagaz da garota voltou a ser destaque no episódio. Para mim, ela
e o Calico Jack deveriam logo assumir uma parceria e tocar o puteiro juntos, em
todos os sentidos da coisa.
Mas claro, se Max ajudou a quebrar essa decepção que foi o
sétimo episódio, Vane também cooperou muito. Sua ascensão do túmulo, sujo, nu e
selvagem foi uma das coisas mais brilhantes que a série poderia ter feito com o
personagem. Mesmo que seu percurso na série tenha sido meio fraco e quase
apagado, sua trama foi muito consistente. De um capitão temido, a um pária da
sociedade, drogado e excluído, mas agora com uma missão e um grupo voraz ao seu
lado. Foi uma construção de personagem que encontrou justificativas durante o
caminho percorrido. Sinto em dizer, mas aparentemente o gigante barbado que ele
matou não era mesmo o Barba Negra (original). Na história ele não foi tido como
responsável pelo assalto a Cartagena e muito menos morreu em uma tribo reclusa
de ex-piratas.
De todas as amizades, de todas as alianças, quem diria que
Silver e Randall seriam a mais interessante delas? Uma pena que isso só veio a
acontecer agora no final da primeira temporada. Meu único medo é que já no
próximo episódio essa dinâmica seja completamente riscada e esquecida. Espero
sinceramente que isso não aconteça, já que no futuro essa relação será muito
importante para o Silver.
Mapa na garrafa 1: O que esse episódio não mostrou de peitinho
ele mostrou de pinto balançando. Se o resultado foi bom ou não, vocês que devem
me dizer.
Mapa na garrafa 2: Anne e Rackham ensinando técnicas
valiosas para um momento agradável a dois. “Bom. Você quer algo enfiado no seu
rabo?” “Não, não obrigado.”
Mapa na garrafa 3: Eu acho que o Flint, a Sra Barlow e o
marido dela eram todos um “casal”. A sociedade descobriu, os puniu e a série é
na verdade sua luta pelos direitos do amor livre.
Mapa na garrafa 4: Sei que muitas pessoas reclamaram das
referências que fiz nas reviews passadas a Treasure Island. Black Sails é
prequel de Treasure Island, um livro que já tem mais de 130 anos e já recebeu
dezenas de adaptações. Se mesmo assim, você decidiu que não irá acompanhar
nenhuma delas, existem piratas na série que realmente existiram historicamente,
a Urca de Lima, por exemplo, existiu. Em alguns casos é necessário fazer essas
comparações e sempre tenho o cuidado de não revelar informações que possam
estragar a experiência de ninguém. Quando comentei o fato da morte do Billy no
episódio 6, saibam que isso foi uma informação que pode ser encontrada
meramente lendo a sinopse do livro, por isso não julguei como spoiler e não
julgo.
Mapa na garrafa 5: Os cortadores de madeira são um fato
interessante da história. Por volta de 1700 (e pouco), era moda queimarem o tipo de madeira que esses homens cortavam,
já que elas expeliam um agradável aroma. Por toda Europa as pessoas a
utilizavam como um tipo de incenso e por isso era um mercado lucrativo.
Mapa na garrafa 6: Esses homens, se alimentavam basicamente de carne de porco
defumada, que eles chamavam de “boucan” ou bacon.