Alianças que não duraram a
primeira garoa.
Uma aliança boa é aquela que
pode resistir a mais terrível tempestade, a de Flint e Vane não passou da
primeira garoa e isso diz muito sobre o que vem acontecendo com Black Sails até
agora.
A série que começou
interessante ao se mostrar diferente de tudo o que esperávamos acabou nos
induzindo a um coma tão grande nesse terceiro episódio que eu fiquei querendo
tudo aquilo que tinha me deixado contente por não ansiar. Um pouco de
mobilidade, um pouco de ação, qualquer coisa menos enfadonha que uma mulher
lendo contos eróticos bíblicos para um assanhado padre albino.
Mas estou sendo injusto com
Miranda, ela foi uma boa personagem e atingiu um nível que até então apenas Max
tinha chegado. Gostei do seu jeito inteligente e sagaz. Sabe o que me preocupa?
Será que darão a ela o mesmo tratamento que a prostituta recebeu? Por que toda
a personalidade dela acabou indo para o lixo, não é possível que tentem vender
a mulher nos próximos episódios como se nada tivesse acontecido nesse. O mesmo vale para a Sra. Barlow, que
aparentemente é uma nobre. Quando a coroa saiu, Nassau foi tomada por piratas,
espanhóis e franceses, os nobres (ou só mais abastados) foram embora, alguns
ficaram e por muito tempo precisaram fugir para a floresta e viver de frutas e
outros animais selvagens (esse último só quando a sorte sorria). Quem é essa
mulher que precisa ser vigiada constantemente? O único mistério levantado por
Black Sails até agora. Torço para que não estraguem tudo como fizeram com a
Max, que não merecia esse desfecho tão trágico assim tão cedo.
Discutindo os outros
personagens, Calico Jack é de fato e até historicamente referenciado como mais
perigoso que o próprio capitão Vane. Por isso, todo esse episódio mais centrado
nessa figura talvez tenha sido uma forma de nos mostrar esse seu lado. Durante
as negociações é ele quem fica como o pequeno diabo no ombro do capitão,
atiçando as coisas negativamente. Mesmo que tenha sido ele a desesperadamente
precisar de ajuda durante todo o episódio graças as pérolas afogadas.
Nada disso me faz esquecer que
esse episódio de tão lento quase me deu sono. Compreendo a necessidade de
desenvolver a mitologia e política por trás da era de ouro da pirataria, mas é
necessário mais do que apenas cinco minutos finais para segurar a audiência da
série e mantê-la interessante.
De certa forma III ainda é
parte do piloto, é como se estivéssemos acompanhando um piloto de três horas.
Tudo tem uma introdução, desenvolvimento e conclusão e chegamos a conclusão do
piloto apenas agora. Isso é de dar medo. Se por um lado ir com calma é bom, por
outro esse excesso de calma acaba deixando tudo um pouco tedioso e Black Sails
só tem oito episódios em sua temporada de estreia. E é isso que eu senti, muito
tédio. Algo que eu não pensei que poderia sentir em uma série de piratas. Tudo
bem o segundo episódio ter focado na política, mas precisamos de um pouco de
ação ou então tudo vira um parado blábláblá eterno.
Nem mesmo o discurso
desesperado de Eleanor no final me comoveu, pareceu tão apressado que toda a
escala emocional que deveria nesse momento chegar ao teto, ficou lá, parado no
chão tão ou mais em choque que os capitães. Ou seja, a dor que a gerente da
ilha precisaria passar para nos comover com ela não veio e eu terminei aliado a
Max, mesmo sabendo que a culpa por ela ter sido aprisionada foi dela, por ter
desde o começo feito escolhas erradas. Um único detalhe, que espécie de mulher
é estuprada e depois se alia exatamente ao homem que permitiu essa violência?
Onde está a coesão de uma personagem que foi tão bem conduzida até agora? Pelo
visto, esse foi o primeiro e maior tiro no pé que a série teve.
A única reação crível foi da do
Mr. Gates que conseguiu expressar o que eu estava pensando. “Que inferno acabou
de acontecer?” e a cara branca do Vane. Vane sabe que acabou de perder Eleanor,
ela fez questão de desenhar a linha ao ser a responsável por depor o homem que
ela tinha acabado de assaltar sexualmente alguns minutos atrás (uma cena que
para mim só pode ser justificada pela proximidade da personagem aos gritos da
Max). Então, imagino que tudo o que havia sido construído até agora
simplesmente mudou. Entendem minha frustração? A série passou três episódios
desenvolvendo uma política e aprofundando a motivação do capitão, mostrando até
onde estávamos indo para depois desabar tudo em uma cena. Seria bom, se não
tivesse sido tão ruim. Isso sem comentar que a motivação para a aliança com o
Vane tinha sido a idade do Gates, uma justificativa que teria sido boa ao
mostrar que idade é algo que influencia muito se ele não tivesse terminado
exatamente como Flint havia planejado no começo. Uma corrida atrás do próprio
rabo que terminou com uma mordida que de acerto passou para dor certeira.
Uma sorte diferente para John
Silver, que esteve bem mais contido nesse terceiro episódio. Menos cômico, mas
ainda inteligente. E só consegui notar que Billy Bones é um personagem até
legalzinho por causa do “cozinheiro” canastrão. Mais uma prova de que a série
acabou perdendo boas oportunidades de ter mostrado seus personagens principais
com mais personalidade do que fizeram até agora. Somente depois de praticamente
duas horas e meia de série que comecei a entender quem são os piratas aliados a
Flint. Ao passo que os piratas do Vane já tinham uma personalidade bem sólida.
Bonny que até agora teve quase nenhuma cena importante me convence com apenas
um olhar, enquanto Gates e Billy precisaram de muito mais do que isso.
Ou seja, esse terceiro episódio
acabou não me agradando muito. Um pirata preocupado em comprar armas ao invés
de simplesmente roubá-las? Não gostei do desfecho de Max, que foi culpada
apenas de não conseguir concluir a negociação que começou com Vane, sendo que
quem perdeu as pérolas foi Rackham. E aqueles óculos estranhos (porém
historicamente aceitáveis) que só me mostram o quão não piratas esses homens
são. A série fez bem em diminuir o passo em seu segundo episódio, mas pecou ao
entregar um terceiro episódio tão sonolento e longo quanto os créditos iniciais,
que sinceramente, parecem levar duas encarnações pra terminar.
Mapa na garrafa 1: Vane se
tornou mais interessante a partir da olhadela para Bonny e sua ameaça.
Mapa na garrafa 2: Apesar de
ter gostado da forma como o episódio terminou, eu ainda queria acompanhar a
aliança entre os dois capitães. Acho que perdemos mais do que ganhamos com
essa.
Mapa na garrafa 3: Piratas
sempre fizeram alianças, era comum para eles se juntarem para tomar navios
juntos e festejarem depois. Podiam ter explorado mais opções, né?
Mapa na garrafa 4: Eu sei que a
vida real não é cheia de ação e que a série está fazendo um bom trabalho de
retratar a política desses indivíduos, mas se eu quisesse apenas vida real eu
assistiria a um documentário, não uma série cheia de personagens saídos de Ilha
do Tesouro. Vamos lá Black Sails, está na hora de apimentar mais as coisas.