Sleepy Hollow, fechando a
temporada da mesma forma que começou, surpreendendo.
Alerta de Spoilers!
Foram apenas treze episódios,
treze episódios em que acompanhamos Ichabod e Abbie nos conquistando
semanalmente. Apesar de ter elevado e muito as expectativas para seu season finale,
Sleepy Hollow só nos entregou um ritmo mais frenético mesmo nos dez minutos
finais de Bad Blood. Mas o trabalho de elevar a tensão foi bem desenvolvido.
O que eu consegui retirar
desses treze episódios é que fica uma ideia muito grande de que tudo o que
aconteceu até o final foi planejado. Absolutamente todos os momentos tiveram
uma ligação com o que Henry/Jeremy queria. Fica apenas uma reclamação, espero
que na próxima temporada os flashbacks fiquem menos repetitivos, a impressão
que eu tive era que eles serviam para “tampar” as lacunas vazias dos episódios,
foram inseridos flashbacks muitas vezes sem necessidade alguma, como por
exemplo, esse pequeno momento do Henry se lembrando de tudo o que aconteceu, ou
o próprio Ichabod tendo flashs de Katrina de coisas que aconteceram durante
toda a primeira temporada. Tudo bem, nós sabemos, por que nós acompanhamos a
série até agora. Essa é a minha única reclamação.
Muitas séries deveriam aprender
como construir um bom thriller, a professora Sleepy Hollow chegou mostrando que
sabe sim elevar o clima de tensão. Tudo bem que a primeira parte do finale poderia
ter sido um episódio a parte, mas vê-lo em sequência me deu uma sensação maior
de proximidade e urgência.
Era meio que óbvio que o
Ichabod iria fazer o possível e impossível para salvar Katrina, eu só pensei
que a tal traição profetizada por Moloch seria maior. Ok, ele foi lá e usou sua
memória fotográfica para reproduzir o mapa até o portal do purgatório, por
causa dele, Abbie acabou se sacrificando, mas foi exatamente isso que fez com
que a traição perdesse impacto. Afinal, a policial decidiu abrir mão da
liberdade em prol do casal. Tudo bem que os dois são super amigos e se
reconhecem através de socos de brodagem, até consigo entender que deve mesmo
ser difícil ficar bravo com o Ichabod, mas se era pra ser traição, que fosse ao
estilo mais literal da palavra. Seria interessante (apesar de cruel) ver uma
balançada na amizade dos dois.
Uma das coisas que eu percebi
era a relutância em Ichabod aceitar se incluir definitivamente no novo mundo,
passando das roupas ao desprezo pela tecnologia, tudo isso para mim era um
sinal de que ele não se encaixava, ou melhor, não queria se encaixar naquela
realidade. Katrina então era a única coisa viva que poderia fazer essa ponte
para ele, dar uma noção de “pertencer”. Abbie conseguiu quebrar muitas
barreiras com o amigo, até mesmo um celular ele queria, mais moderno, então,
não culpo as atitudes dele, quem não faria o mesmo para rever a pessoa que ama?
Ou seja, existem justificativas para o comportamento do personagem, não são
ações e reações feitas só para se adaptar ao momento do roteiro.
E quem aqui, além de mim,
pensou que Katrina acabaria traindo todo mundo? A todo momento eu pensei que a
bruxa acabaria se revelando a verdadeira serva de Moloch. Pensei também que com
isso, finalmente teríamos uma chance concreta de poder shippar o casal Ichabie
ou Abibod(e), tudo isso é culpa do Tom Mison e da Nicole, gente, que química
maravilhosa que esses dois tem. Conseguem convencer como amigos e ainda nos dão
o presente de imaginar os dois como casal. Imaginem só que sonho? Mas tudo bem,
será bom também ver Katrina em liberdade.
Esse finale serviu para nos
dizer que tudo tinha um motivo, desde o começo as coisas estavam orquestradas
para chegar nessa conclusão, tudo era apenas uma questão de sorte (para o lado
do Pata Rachada) e azar (para nossos protagonistas). Lembrei um pouco da série
Angel, em que o filho do vampiro, Connor, depois de ser sequestrado e criado
por um de seus piores inimigos volta com o intuito de matar o pai. Aqui, as
coisas são mais adultas e pesadas, Jeremy já está mais velho que os pais,
amargurado pelas traições e com um pacto firme com o raivoso Pata Rachada, ele
é o cavaleiro da Guerra e por mais que eu queira imaginar um final bom, eu não
consigo ver redenção em Henry/Jeremy.
Que soco em nossos estômagos,
que estávamos tão acostumados com a presença gentil do Henry, ou mesmo com o antigo
papel do ator, interpretando o Walter em Fringe. Não imaginava que o teria como
vilão, mas depois de comemorar muito por tudo o que eu tinha assistido eu
fiquei feliz com a possibilidade de ter John Noble com big bad e não apenas um
sidekick. Creio que assim ele será melhor aproveitado.
Não canso de falar, mas os
efeitos especiais de Sleepy Hollow colocam muitas veteranas no chinelo. Que
purgatório medonho foi aquele? Esse tipo de construção foi o que sempre me
decepcionou muito em Supernatual (ainda não terminei a sétima temporada, me
perdoem se eu estiver falando besteira), mas as coisas são sempre tão
realistas, que temos que nos conformar com um vislumbre qualquer do inferno ou
purgatório. Aqui não, as almas torturadas, a maquiagem e o ar de medo que tudo
aquilo passava é algo para poucos. Moloch realmente me assusta quando aparece,
eu fico apreensivo imaginando o que ele é capaz de fazer e isso me dá medo, um
sentimento que pouquíssimas séries conseguiram despertar em mim. E a tumba do
George Washington, o primeiro zumbi a aparecer na série, com todo aquele ar do
filme “Caça ao Tesouro”, com símbolos maçons? Absolutamente incrível.
Ou seja, passando do The Indispensable Man, que levantou a
dúvida da traição, apontou a urgência das profecias e o que elas poderiam
significa a longo prazo e chegando a Bad
Blood, que foi uma ótima conclusão para toda a tensão, Sleepy Hollow fez um
excelente season finale.
Não acho que Jenny tenha
morrido, seria muita maldade da série dispensar tão rapidamente e sem apelo
emocional uma personagem tão forte e marcante. Tanto que ela foi a única que
não terminou aprisionada, creio que será ela quem conseguirá libertar Ichabod
da tumba e assim procurar por Abbie e Katrina. Só quero saber a quem pertencerá
a alma que eles deixarão no purgatório para ocupar o lugar da Abbie.
Lembram que eu disse que a
presença da família do Irving era justificada apenas pelo fator “perda”? Pois
bem, de certa forma foi isso mesmo. A ex-esposa, ou melhor, o status de
relacionamento complicado do capitão e sua filha recém-possuída foram a forma
que os roteiristas encontraram para eliminar um dos integrantes do grupo e
assim evitar um congestionamento de personagens no finale. Pra ser honesto,
realmente, não tinha espaço para o Irving nesses episódios, o holofote estava
em Abbie e Icky e era lá mesmo que ele tinha que permanecer.
Esse finale também foi
responsável por dar uma boca a nosso vilão. Andy era interessante e tudo mais,
mas existia todo aquele problema com o fato dele não ser realmente 100% vilão,
era mais uma alma torturada e amargurada. Até o final, em que ele se entrega
totalmente para Moloch, eu não o considerava totalmente como tal. Moloch,
apesar de meter medo e tudo, não apresenta o tipo de personagem (ainda) que
poderia se mostrar totalmente presente, interagindo com os protagonistas.
Henry/Jeremy/Guerra dá voz a imagem do vilão, agora poderemos ter discursos,
conversas e interações mais densas entre os dois lados da guerra.
Gostei muito dos episódios, que
tiveram mesmo um começo bem mais lento, mas foram totalmente satisfatórios,
vimos o pai do Ichabod, com a interpretação fantástica do Victor Garber e mais
do Xerife, que pode ir além dos flashbacks e gravações de exorcismo.
Muito do brilho de Sleepy
Hollow se dá pelo fato da série ser completamente fora da caixinha, com um
suporte firme de ótimas atuações, atores que conseguem ter química e é uma
série inteligente. Eu consigo gostar de todos os personagens (um pouco menos do
Irving), é fácil gostar deles e muito mais torcer por eles. Essa experiência de
acompanhar os treze episódios da primeira temporada foi ótima e nos vemos
novamente na fall season, torcendo muito pra FOX não empolgar demais e acabar
aumentando de 13 pra 22, poderia ser a destruição de um dos pontos mais fortes
da série, a agilidade.
Ps. Da mitologia grega a Sleepy
Hollow, o que aprendemos? A nunca comer ou beber nada no outro mundo. Mantendo
a forma e a alma intactas.
Ps². Achei que pintou um pouco
de ciúme por parte da Katrina depois do abraço e do sussurro do Ichabod na
despedida do purgatório. Se ela pudesse tinha tomado o amuleto de volta.
Ps³. E que a segunda temporada
não seja centralizada em resgatar a Katrina, de novo.