A era de ouro da pirataria
chegou.
Alerta de Spoilers!
Antes de começar a review, só
uma informação. A série estreia oficialmente no dia 25 de janeiro, porém o
canal Starz liberou o primeiro episódio dela em seu site, assim como uma
parceria entre eles e o Machinima, em que ele foi disponibilizado no Youtube,
só que com cortes (nada de peitinhos, barba negra, sangue e palavrão). Fiquem
atentos para essas versões.
Black Sails para mim foi tida
como uma série que poderia acabar se tornando ou uma grande e grata surpresa,
ou uma bomba colosal. Por muita sorte, esse primeiro episódio se provou
exatamente o que eu mais queria, uma grata surpresa. Dirigido por Neil
Marshall, o mesmo que não é estranho a batalhas marítimas, já que ficou
responsável pela direção do belíssimo ‘Blackwater’ de Game of Thrones, o
primeiro episódio da série conseguiu ponderar muito bem plot central, a busca
pelo galeão espanhol Arca de Lima, o mini-plot da deposição do capitão Flint e
a gana de Sigleton em conquistar o posto. Ou seja, um pouco de tudo para nos
mostrar o que a série é capaz.
Sendo assim, aprendemos que piratas
devem ser temidos, piratas precisam ser respeitados, mas então, o que dizer de
Billy Bones, que perpetuará o dilema do pirata que não quer ser malvado? Eu,
pessoalmente simpatizei muito mais com o canastrão John Silver do que com o
bonitinho mesmo quando está sujo, Billy. Mas ambos perpetuam dois papéis que
precisam existir dentro de uma série tão caótica. Caos é a palavra chave para
Black Sails, a começar pelo próprio capitão. Cada detalhe, cada liderança, a
própria ilha, são representações do incontrolável, mesmo onde existem leis.
As cenas de sexo são apenas
cenas de sexo, adicionam pouco ou quase nada e se forem riscadas dos 60 minutos
de episódio, não fariam falta. Mas o que eu estou dizendo? São ótimas de serem
assistidas e perderíamos muito se elas não estivessem lá, ou esse é apenas meu
lado pervertido falando mais alto e tomando conta desse review. O mais
importante para nós é entender a política dos piratas, que vivem em uma espécie
de democracia, o posto de capitão é elegível e nada mais útil, afinal, o
verdadeiro ditador é o oceano. E como eu disse lá em cima, apesar de existirem
leis, também existe a anarquia.
A ilha de New Providence, foi
muito bem feita, o que eu temia era uma super produção que fugisse um pouco a
realidade do local, que pertenceu a Inglaterra, mas que agora estava nas mãos
dos piratas. Ou seja, ver que aquele era um palácio de sujeira, desorganização
e negócios escusos cooperaram muito para que existisse uma imersão naquele
mundo. Até por que, ninguém quer um efeito Maria Antonieta, da Sofia Coppola,
certo? Nada de piratas limpinhos, mercados organizados e cabelos sempre
penteados e hidratados.
Pra ser mais honesto, em uma
série de piratas, a última coisa que quero é me lembrar do Johnny Depp, os fãs
que me desculpem, mas a afetação cômica do Jack Sparrow não tem lugar em Black
Sails e espero que permaneça assim. Todos os personagens acrescentaram algo e
ver o conflito com outros capitães como Capitão Vane nos dá a sensação de que
as coisas não serão monótonas. Por que mesmo que a inteligência colonial
(marinha) demore a dar as caras, sangue no oceano é o que não vai faltar.
Já falando no capitão Flint, uma
das coisas que me incomodou um pouco foram às referências a “Ilha do Tesouro”,
como se já não existisse o suficiente disso em praticamente todos os filmes
sobre o tema. Afinal, existem muitos e muitos piratas que realmente existiram
na vida real e que mereciam uma homenagem na série. Capitão Flint? Vamos dar
uma modificada. Essa é a era de ouro da pirataria. Mas a verdade é que o canal
quer mais assinantes exatamente por causa de Black Sails, isso nos mostra que
esse apego a personagens conhecidos e de fácil assimilação é um condutor para agitar
a audiência. Mas não refuto completamente a participação especial do Barba
Negra, se é que vocês me entendem.
Da mesma forma que Spartacus,
também filha do canal Starz, Black Sails não deve ser levada em total
fidelidade ao momento histórico a qual está inclusa. Porém, a imersão que ela
propõe nos permite sim fazer algumas conexões com relatos historiográficos. O
dólar espanhol (peso ou peça de oito), por exemplo, existiu de fato naquele
período e de acordo com muitos historiadores, foi o que deu a origem ao dólar
americano. Assim, ele era utilizado no comércio entre Europa, Américas e até
mesmo China, aumentando mais ainda as possibilidades para o futuro da série.
Black Sails é uma produção que abusa das situações fantásticas, cenas tórridas
de sexo entre prostitutas, batalhas grandiosas, mas tem em seu pano de fundo,
detalhes que fazem por enriquecer a trama.
Isso é muito interessante, a
série poderia muito bem ter usado a experiência de sangue e sexo que foi em
Spartacus e ter nos entregado um misto de fantasia e ação desenfreada, mas
existe certa parcimônia a principio, o sangue corre, mas não aos litros. E a
história é muito boa, os personagens são bons e as relações que eles
apresentam, são críveis. Os cenários foram em alguns pontos construídos em
estúdio, nos dando mais realidade do que o mero abuso do CG e tela verde. Não
se enganem, sou um fã de Spartacus e adorei a série do começo ao fim, não estou
depreciando a obra, só estou feliz em ver um produto diferente e mesmo assim
tão fácil de relacionar.
Algumas coisas vão um pouco
além e mostram completamente o traço de Michael Bay, conhecido pelas explosões
grandiosas de Transformers e as cenas um tanto quanto confusas de suas
sequências. Um mastro de navio que ao ser atingido por uma bola de canhão faz o
mesmo barulho que outro filme colocaria para a demolição de um prédio, por
exemplo. Porém, as coisas aqui são um misto de sua era Armagedon com seu
primeiro filme da franquia dos robôs. Existe a grandiosidade, mas também é
fácil entender o que está acontecendo na tela, por que os personagens são
desenvolvidos, mesmo quando não tem falas ou quase não as tem, um mero toque
(no lugar certo), no caso da Anne, já nos mostra muito da personalidade dessa
mulher.
Claro, um agradecimento
especial deve ser feito para a série que colocou pelo menos três personagens
mulheres fortes, com personalidades marcantes e motivações muito bem
construídas. Existe esse espaço na série. Da “gerente” da ilha, a prostituta e
chegando na vil pirata, eu como telespectador consigo gostar de cada uma delas,
por motivos diferentes. Isso sem contar que logo chegaremos ao ponto das
traições, alianças que começaram a se formar nesse primeiro episódio. Não
podemos negar, existe espaço para desenvolvimento.
A grande pergunta que fica ao
final do primeiro episódio é essa: Será que Black Sails será para os piratas o
que The Walking Dead foi para os zumbis, ou o que True Blood foi para os
vampiros? Existe toda aquela liberdade por todas essas séries serem de canais
em que o conteúdo adulto possa ser liberado com gosto, mas o appeal, esse sim é
quem ditará o futuro dessa novata. Afinal, Black Sails poderá ser um divisor de
águas para os já esquecidos bebedores de rum e mais ainda, poderá fazer aquilo
que Piratas do Caribe tentou e até teria conseguido se não tivessem perdido a
mão em Dead’s Man Chest e At Worlds End, que de tão confusos, se tornaram
desnecessários. Verdade seja dita, essa estreia merece um brinde com o melhor
rum da prateleira.
Mapa na garrafa nº1 – O Starz
botou fé em Black Sails e antes da sua estreia já a renovou para a segunda
temporada.
Mapa na garrafa nº2 – Você não
é o barba negra. Ah, você é sim.
Mapa na garrafa nº3 – Para quem
assistiu The Secret Circle, ou pelo menos viu uma promo ou outra, aposto que
vocês não imaginariam que Jessica Parker Kennedy um dia poderia interpretar uma
prostituta de sotaque questionável e com tórridas cenas de sexo lésbico, né?
Mapa na garrafa nº4 – Anne
Boony, eu te amo.