Invocando demônios e
desvendando o passado do Cavaleiro.
Demorou um pouco, mas agora já
sabemos quase tudo o que precisamos saber a respeito do Cavaleiro sem cabeça. Depois de vários episódios preocupados em nos
mostrar flashbacks de Ichabod e Katrina, nada mais justo do que um quase que
totalmente focado no cavaleiro, a figura misteriosa que tem como objetivo trazer
dor e sofrimento a humanidade e especialmente a nosso querido senhor Crane.
Primeiro quero deixar meu
agradecimento aos roteiristas da série que começaram esse episódio com um dos
ensinamentos mais valiosos para a sobrevivência de Ichabod nos tempos modernos.
O soco comemorativo. Sleepy Hollow é isso, uma gota de sabedoria por vez.
Brincadeiras a parte, quero
dizer que esse episódio me deixou um pouco insatisfeito. E o motivo é a forma de
lidar com o passado do nosso vilão da temporada. Uma pequena falha é deixar
esse flashback que tanto pedimos muito explicativo, didático demais. Na cena em
que é revelado que o cavaleiro é na verdade Abraham, nós somos forçados a
vivenciar pela segunda vez o flashback de Ichabod lutando com o amigo no meio
da floresta. Desnecessário. Outro ponto é que nós já tínhamos entendido muito
bem que o cavaleiro era o até então melhor amigo de Ichabod, já sabíamos o motivo,
que era Katrina, só precisávamos chegar ao momento em que isso acontecia. Mas
ficar indo e voltando em flashbacks picados que não acrescentam muito ao que
está acontecendo no presente não é a forma mais inteligente de nos entregar
essa história. Não foi ruim, mas também não foi tão bom assim.
Pra ser honesto, tirando a
informação de que o Cavaleiro tem um problema pessoal com Ichabod, o resto foi
bem clichê. Se no primeiro episódio da série Ichabod apresenta Katrina como
esposa, teria sido mais interessante ver a motivação do Cavaleiro ser outra. Mas tudo bem, não temos tempo para perder e
condensar os fatos pode ter sido mais importante, mesmo que isso tenha sido
também mais preguiçoso. Mas, conseguiram com essa abordagem responder uma das
primeiras indagações que tivemos, o porquê da alma dela estar presa no purgatório.
Sem Katrina o capiroto não tem vantagem sobre o Cavaleiro. E ele precisa dessa
vantagem, nosso Andy pescoço doido provou que apesar de serem praticamente
escravos do tinhoso, eles ainda permanecem com certa liberdade.
Não sei ainda se todos os
serviçais do capiroto venderam a alma, mas a devoção dos hessianos para com ele
é bem forte e vejo a concessão de alguns dons a esses lacaios. Por isso, hessiano
bom é hessiano que fala com cavalos. Nosso momento Dr. Dolittle foi outra das
coisas deliciosas que Sleepy Hollow nos passa semanalmente e que é digno de
entrar para o mural do esquisito da cidade. Isso só nos mostra que aquilo que a
série vinha pregando desde o começo está sendo utilizado. Os vilões estão
espalhados por toda a parte e sempre preparados para atender ao chamado das
trevas, quer ela seja em forma de Cavalos de olhos vermelhos, ou visões com o
capiroto. Isso por que nem estou comentando a invocação dos demônios no final
do episódio. Mais uma vez, obrigado pelo bestiário Sleepy Hollow.
A utilidade do Andy também foi
ótima. Até por que, não só o Irving ficou chocado com a sugestão de interrogar
um homem que não tem cabeça, eu também fiquei imaginando como eles iriam fazer
isso, se seria através de um sonho ou outra forma mágica. É uma pena Katrina
não poder interferir muito no mundo real, ela seria uma grande adição nesses
momentos. Pelo menos a explicação para o feitiço que existia dentro da sala
onde o cavaleiro ficou preso foi legal. E a resumo com uma fala:
"[Jefferson] previu
aprisionar os piores tipos de demônios que poderiam andar na terra, um produto
sem dúvida, de seus anos tentando racionalizar com os franceses".
Já que comecei a falar do
Irving, venho agradecer de todo coração que colocaram Jenny para interagir com
ele ao invés de deixarem a moça no cubículo com Abbie e Ichabod. Já disse que
ela tem uma presença enorme e já li mais de uma vez que existe todo um ar de
Sarah Connor ao redor dela, nada mais justo do que a deixarem mais livre. E é
engraçado ver como ela combina bem com o capitão. Essa divisão de casais foi um
dos maiores acertos da série até agora. E quem sabe não encontramos nosso
segundo shipp? Irnny?
Outro dos acertos de Sleepy
Hollow é saber usar muito bem as referências históricas para praticamente quase
tudo que acontece semanalmente. Em Necromancer
tivemos a presença de um certo Adams, o dono da loja que foi roubada e que
escondia o artefato utilizado para quebrar o feitiço que protegia a prisão do
cavaleiro. Adams ao que tudo indica é descendente de John Adams, o segundo
presidente dos Estados Unidos. Pelo visto todas as figuras políticas de Sleepy
Hollow tem alguma ligação com o apocalipse, só que dessa vez, uma ligação boa.
Não gosto nem de pensar se a série se passasse no Brasil e dependêssemos de
figuras políticas pra sobreviver ao fim dos tempos, acho que eu acabaria me
aliando ao capiroto.
Pela primeira vez também
lidamos com um Ichabod mais emocional do que o usual. O cavaleiro conseguiu o
fazer perder a cabeça mesmo sem precisar decapitá-la. Parabéns! Abraham também
é saído do conto de Irving. Lá, ele é o galante Abraham Van Brunt, ou Brom
Bones que disputa o amor de Katrina com Ichabod e por um momento até assume a
identidade do Cavaleiro sem Cabeça para assustar Crane e fazê-lo fugir da
cidade. Aqui, ele não é só isso, também é o cavaleiro sem cabeça, mostrando que
o recalque por perder a mulher desejada pode ser mais perigoso ainda quando a
alma é vendida no processo de se conseguir a tão sonhada vingança.
Esse episódio é o tipo “Bottle
episode”, ou episódio de garrafa. Bem menor e mais limitado (apesar da cena com
a explosão) com um foco maior nas falas e no desenvolvimento da história e dos
nossos personagens principais. Logo, essa centralização nos túneis abaixo da
cidade foi muito bem guiada para criar todo o sentimento de tensão. Todo mundo
imaginava que uma hora ou outra alguém tentaria cortar a energia da cidade para
conseguir libertar o cavaleiro, isso era esperado e bem previsível. Foi à
revelação que importou mais do que imaginar se iriam ou não libertar Abraham
sem Cabeça.
É graças a essa relação que a
ironia coloca Katrina como responsável por ter ligado magicamente o homem que
ama ao antigo noivo, mesmo que sem saber (assim espero). Quer ligação pessoal
maior que essa? Se o cavaleiro tivesse boca ele estaria espumando de ódio,
imaginem, seu maior inimigo e você nem ao menos pode matá-lo sem morrer no
processo e assim correr o risco de perder o prêmio que tanto aguarda? Que
barra.
Agora, só precisamos de um
episódio inteiramente focado em Katrina para que todos os personagens
principais já tenham sua fatia de backstory preenchida. Depois disso, nos deem
um episódio focado em Jenny e Irving e eu estarei completamente feliz com a
série. Na verdade, não completamente, por que eu ainda quero um episódio só do
Andy com o pescoço doido dele, mais nada.
Ps. Casos de Família. Tema: Meu
amigo vendeu a alma pra tentar roubar minha esposa.
Ps². A tabela de culpa do
Ichabod acabou de ganhar mais um nome abaixo de Arthur Bernard.
Ps³. Um viajante no tempo, um
capitão, uma testemunha, uma louca e uma feiticeira. Precisamos encontrar
um nome para essa equipe urgentemente.