Finalmente, mar aberto e navios na série de piratas.
Black Sails IV
O que seria de Black Sails sem suas mulheres?
A resposta a essa pergunta é bem simples. Nada. Isso é o que
seria da série sem suas figuras femininas tão fortes, marcantes e até agora
muito mais relevantes do que qualquer Flint ou Vane que tenha aparecido.
Felizmente a carga emocional desse episódio ficou mais
centralizada nas mulheres do que nos homens, que só vem mostrando fraqueza pra
ser sincero. A começar pela cena em que mais uma vez, sexualmente, é uma mulher
quem domina a situação. Naquele momento em que a Sra. Barlow está com o Flint,
fica bem evidente que aquele é sexo para ela e apenas ela aproveitar. É Flint
quem está de certa forma sendo usado. Da mesma maneira que Vane foi por Eleanor
no final do episódio passado.
Gostei da série ter acelerado as coisas e ter entregado logo
o segredo ao redor dela e de sua relação com o Flint. Isso, meus caros, foi uma
mensagem bem clara para todos nós: Não existem contos de fadas aqui, esses não
são piratas da Disney. Se é que ainda existia alguma dúvida quanto a isso. O
que quero dizer mesmo é que nossas ideias de romance não se aplicam ao universo
desses piratas.
Flint e a já não mais misteriosa mulher tem um passado que
em outras produções teria tudo para ser a história de superação do amor. O
jovem promissor da marinha e a mulher do homem poderoso juntos, se amando.
Depois isolados em uma ilha “deserta” podendo desfrutar de todo o romance
bucólico que faria inveja em muitas. O problema é que esse romance terminou em
um verdadeiro terror, para ela. E essa aliança dela com o Guthrie dá ainda mais
profundidade a personagem, nos mostra uma outra faceta dela que não
imaginávamos. Quando a conhecemos, vemos Flint se entregando, o homem que
passou a imagem de poder e força caído aos pés de um mulher aparentemente comum.
Agora as coisas mudaram, essa mulher tem dúvidas e esse é o maior vilão em uma
série que até agora não mostrou nenhum. Por isso, finalmente eu compreendi toda
a frieza entre os dois, afinal, o esperado era que naquele primeiro momento ela
corresse para os braços de seu “amante”. O que ela quer mesmo é correr deles.
Mulheres fortes. Nada do clichê da mulher que precisa de um
homem ao seu lado para ser completa. O caso aqui é bem diferente, tudo, até
mesmo nas relações familiares vemos os homens sendo um verdadeiro peso para elas.
E isso é algo que eu gosto muito na série. Afinal, eu não esperava ver. Sempre
que vemos piratas já imaginamos logo de cara a donzela indefesa sendo resgatada
ou a imagem da mulher frágil que se torna “forte” e acaba salvando o
marido/namorado contrariando todas as expectativas levantadas inicialmente. Em
Black Sails não é bem assim, as mulheres vão e tomam o que querem, politicamente e sexualmente falando.
É uma pena que Max continue reclusa, sendo forçada a pagar
com o corpo pelo erro que cometeu em confiar em Silver. Erro, que eu ainda não
julgo dela. É uma outra imagem da força feminina dentro da série. Max começou
muito bem, mas um momento ruim da série (dos redatores na minha opinião) acabou
a limando dos momentos que poderiam ser melhores tanto para nós, quanto para a
personagem. Agora, só nos resta imaginar que possa vir a existir uma aliança
entre Max e a Boony.
Boony é outra que começou muito bem e que aparentemente a
série se lembrou só agora de que a personagem não é muda. Gosto daquela cara
fechada e suja, gosto daquele jeito intimidador e até mesmo de ver que ela pode
ser capaz de se apiedar da prostituta. Sabe o que falta? Mais Boony. Por mim a
série poderia deixar os homens totalmente de escanteio e dar um navio para
essas mulheres comandar. Tenho certeza que as coisas estariam bem menos mornas.
Por outro lado Eleanor já tem seu navio. Seu comércio, sua
ilha tem o mesmo valor que o navio para qualquer capitão. É lá que ela importa,
é lá que ela pode fazer pesar sua influência. Mais uma vez um ótimo serviço
para construção de uma personagem. Só achei que Eleanor esqueceu muito rápido
da Max, teria sido interessante a ver pelo menos citando a ex. Isso só reforça
o que eu disse antes, aquela era só mais uma relação de uso. Na série esse
parece ser o lema, usar e ser usado. Todos lá estão sendo usados e para nossa
sorte, são as mulheres que seguram essas rédeas.
Porém, não se enganem, apesar de ter achado o quarto
episódio bem melhor que o anterior a reclamação persiste. Para uma série sobre
piratas estamos experimentando quase nada de pirataria, ou pelo menos,
pirataria em alto mar. Aprendemos muito sobre a importância na distancia das
arvores na hora de se amarrar o navio para a limpeza do casco e que para
navegar com mais velocidade esse precisa estar limpo, aprendemos que um gato
tem sete vidas, mas um ser humano só tem dois pés e aprendemos que a série
continua firme e forte nas armações e planos escusos. Só que até agora não
saímos da praia e toda a minha energia parece que vai morrer lá mesmo.
Ainda existe muita negociação, muita preparação. Fica no ar
uma imagem de medo. Se com o monólogo (um dos vários nesse episódio) de Vane
com sua consciência vemos que seu problema é o medo, talvez a série precise
seguir o próprio conselho. Não vejo outra justificativa que não seja essa.
Provavelmente ela gastou praticamente todo seu orçamento no piloto (o que seria
muita burrice) e agora precisa administrar o tempo para nos entregar nos
últimos episódios um pouco de ação fora da terra firme. Mas se esse realmente
for o motivo, eu fico mais preocupado ainda. Será que teremos que aguentar mais
três episódios de castigo? Não acho justo, já que nós não temos uma tendafoda
para passar o tempo e matar o tédio.
Obviamente a série fez das mulheres sua arma mais poderosa.
Só que essa munição uma hora ou outra pode acabar. Até agora as figuras
masculinas que realmente se destacam são a do Vane, Calico Jack e John Silver.
Mesmo deitado em uma tenda, com alucinações dignas de uma
outra ilha bem famosa, a de Lost, Vane me agrada mais do que a cara sempre
amarrada do Flint. Nem mesmo com essa backstory de que ele foi da marinha e
roubou a mulher do filho do “dono do caribe” fez muito por ele. Vane que
aparentemente agora vai se opor diretamente ao interesse de todos os
personagens principais cravou mais uma pedrinha preciosa no mural de espólios
de Black Sails.
Outro que fez bem foi Silver, que só levantou a fagulha da
dúvida em cima do trio apático composto por Flint, Billy e Gates.
Portanto, julgo que IV foi mesmo melhor que o III. Ainda não
chegou no patamar que eu quero e imagino que muitos queiram. A série tem boa
mobilidade, mas chega uma hora que as maquinações e armações precisam mostrar
suas consequências tangíveis. Só o imaginário aqui não está mais sendo o
bastante.
Mapa na garrafa: Será que Vane andou tendo alucinações com o
verdadeiro Barba Negra? Por falar nisso, saudades Barba Negra.
Mapa na garrafa 2: Poderá o próximo casal da série ser Boony
e Max? Eu sou team Boomax! Afinal, ship
em série de pirata é mandatório.
Mapa na garrafa 3: [Informações históricas] Se você não
gosta de saber possíveis spoilers, não continue. Historicamente a Urca de Lima
existiu, e ainda existe. Foi naufragada por uma tempestade. Agora é imaginar o
que a season finale nos guarda.
Mapa na garrafa 4: Onde estão os piratas gays? Vai me dizer
que nesse mar nenhum peixe espada chama os amiguinhos pra brincar nos recifes
de coral? Conta outra.
Mapa na garrafa 5: A “Tendafoda” deveria ser obrigatória
para qualquer serviço hoje em dia. Chega de área de lazer com mesinhas e puffs,
eu quero uma Tendafoda.
Black Sails - V
Pois é, as coisas demoraram, mas finalmente chegamos ao
ponto em que Black Sails nos entregou um episódio em mar aberto e sem tanta
conversa fiada. Afinal, era isso que esperávamos de piratas, não é mesmo?
A melhora considerável não foi apenas por que tudo estava
acontecendo da maneira que visualizamos. Também foi muito melhor ver uma
centralização maior da série. Enquanto os primeiros quatro episódios foram bem
“dispersos” e criaram muitas situações de intriga e negociação, V dosou bem as
duas coisas e acabou no final prezando mais pela ação do que pela mediação.
Mesmo que o Flint tenha começado dando uma bela explicação
sobre a dureza dos piratas da vida real, as dificuldades e a separação entre
oficiais e piratas, não dá para negar, a vida real não é nosso foco. Também não
deveria ser o da série já que ela mistura personagens da Ilha do Tesouro com
pessoas que realmente existiram. Ou seja, não compro essa de que as coisas são
lentas por que a série tenta ser uma representação de como era a vida dos
piratas naquela época. As coisas estavam lentas por que as mentes por trás de
Black Sails assim quiseram.
Podemos dizer que a lentidão dos primeiros episódios nos
ajudou a chegar onde estamos? De certa forma sim. Porém, como eu disse na
review anterior, o foco dado as mulheres da série faz com que tudo o que já
aconteceu seja melhor compreendido quando estamos vendo o mundo através dos
olhos dessas personagens. Quando acompanhamos os homens, tudo o que passamos
até então poderia ter acontecido sem tanta enrolação.
O papel de Eleanor é diferente, ela precisava passar por
tudo aquilo para chegar na situação de desespero e desamparo que ela está
agora. Max, também. E é até engraçado ver que ao ser “deposta” pelo próprio
pai, Eleanor ganhou muito mais motivos e respaldo para tomar todo o poder para
si. Esse desenvolvimento para a personagem é ótimo, seu medo de magoar Max,
porém, não é.
Eu realmente concordo com Silver, Max escolheu estar na
situação que se encontra. Burrice é a única coisa que justifica e a forma da
série nos dizer isso foi colocar John e Eleanor para ter uma pequena conversa
franca. Não consigo aceitar que a personagem que vinha se mostrando tão
inteligente tenha chegado ao ponto que
está por burrice, mas também não consigo ver nenhum plano por trás das atitudes
da garota. Se existir um plano escondido lá que justifique todo o sofrimento,
eu quero saber logo.
É meio decepcionante ver que todas as alianças que foram
sendo plantadas nos episódios passados não aconteceram. A imagem que fica no
final do episódio é que a série nos enrolou muito. Entregou situações boas?
Sim, mas também soube nos embromar bem. Se não fosse toda a ação e o cliffhanger
eu provavelmente estaria empurrando a série pela prancha.
É fácil de notar essa embromação, por que enquanto as
alianças demoraram quatro episódios para serem construídas e ruíram em uma
cena, a caçada pelas armas foi a coisa mais consistente que Flint e seus
piratas conseguiram transpor dos planos para a ação.
E a ação foi boa. Não teve o ar Michael Bay, já que eu
consegui entender tudo o que estava se passando na tela. Ou seja, é só o nome
do cara que aparece, não deve existir dedo nenhum do senhor explosão nessa
série. Foi bom ver tudo através dos olhos do contador, Dufresne, por que a ação
desenfreada e baseada unicamente no rush de adrenalina seria complicadíssima de
ser colocada em prática se fossemos seguir os personagens principais. O conjunto
da obra foi ótimo de ser visto. Até o desdobramento final, em que a porcelana
chinesa acaba se tornando um comboio de escravos com o fiel ajudante da Eleanor
foi bem executado. Isso sem contar que
acompanhamos um pirata nerd do século dezoito sendo iniciado. Pontos positivos
para Black Sails.
Logo, a série tenta uma coisa bem interessante. Ela quer
transformar nossos piratas em mocinhos ao fazer do navio um mercador de
escravos. Vocês conseguem notar que isso traz os nossos personagens para o rol
dos bons e tira a vilania desse ataque que até então era um saque? Não sei
ainda se gosto disso, preferia que a nuance vilanesca prevalecesse, até por que
não consigo ver Flint como herói de nada. Mas acredito que esse feliz acidente acabe se tornando isso mesmo,
conseguindo melhorar a imagem de Eleanor e do Walrus na ilha. Clima esse que
precisa esfriar logo para o bem de todos os futuros investimentos.
Todo esse quinto episódio foi bem conduzido. Deu espaço para
os piratas enquanto conduziu bem o drama de Elanor, justificando seu
merecimento em ser a governante de Nassau. Impôs ritmo, que era um dos pontos
que a série mais precisava e conseguiu nos prender com um cliffhanger ótimo. Se
as coisas permanecerem assim, nós só temos a ganhar. Assim como a série, que não
pode se dar ao luxo de perder audiência para sua segunda temporada, Starz é
perigoso.
Mapa na garrafa: “... dá próxima vez cobre pela digital.”
Mais um ensinamento válido de Black Sails.
Mapa na garrafa 2: Nunca mire sua arma no rosto de alguém, o
tiro com certeza vai falhar. A não ser que seu personagem seja insignificante. Regra
oficial de Black Sails.
Mapa na garrafa 3:
Quem disse que não existem piratas vampiros? Não tem faca? Beba o sangue do
inimigo.
Mapa na garrafa 4: Capitão Flint é um jedi e abusa do
controle mental com Billy Bones , a mente fraca: “Billy, você vai confiar em
mim e acreditar em tudo o que eu falo”. “Sim capitão, eu vou”. Fim!