Peito. Peito. Fruta. Fruta. Planta. Planta.
Black Sails não fez feio e entregou um segundo episódio
muito bom, um pouco mais lento que seu piloto, porém, nada que não fosse
esperado. Pilotos são para vender a série e o de Black Sails fez isso muito bem
ao exagerar na ação, nas cenas de sexo e nos peitinhos. É quando assistimos ao
segundo episódio e vemos que mesmo sem esses excessos, a série conseguiu se
segurar muito bem em seus cinquenta minutos.
O que importa aqui é a política ao redor dos piratas, essa
era de ouro realmente existiu e mesmo que aqui, tudo seja uma espécie de prequel
de Treasure Island, as motivações são bem próximas das reais. Nassau era o
local mais procurado para o comércio, mercadores vindos de todas as partes do
mundo terminavam naquele porto para negociar com os piratas. O sonho de uma
terra a parte, comandada por eles e sem ligações com a coroa era o que vários
dos piratas do mundo real aspiravam. As cenas balísticas já foram exageradas em
outras produções, essa é uma em que o teor histórico possa vir a ter um peso
maior do que as cenas de sangue explosivo e socos bem ensaiados.
Muitos vão reclamar da falta de oceano em uma série de
piratas, mas eu não. Concordo que batalhas são esperadas, tiros de canhão, mas
a principio o serviço de nos imergir na vida cotidiana desses homens está sendo
muito bem feito. Talvez, ela acabe não
sendo uma série de ação, mas sim uma aventura, o que seria suficiente para uma
grande parcela gritar “abandonei no segundo episódio”, mas tudo bem, eu vejo
Black Sails como uma tentativa diferente de abordagem do canal Starz. Um canal
que ainda está procurando sua identidade e que apesar de ter conquistado muitos
através de areia e sangue, é preciso ter algo a mais para não nos entregar sempre
mais do mesmo. Não é interessante ver uma Spartacus versão bacalhau dos sete
mares, é interessante ver algo novo.
Mas não é por que não tem ação
que a série não pode acelerar as coisas, certo? Para um segundo episódio as cenas
aconteceram com uma velocidade ótima, logo de cara John Silver já é
desmascarado, Max também e todos os planos dos dois vem por água a baixo. Isso
sem contar no breve romance que Eleanor e a prostituta das mãos ágeis nos ofereceram,
de um começo lindo, cheio de promessas para um final amargo, de partir o
coração. “Esse lugar é só areia, ele não pode te amar de volta”.
E é isso o que Eleanor quer,
amor. Não um amor por alguém, um amor a uma utopia, que continua ameaçando a
deixar. Exatamente por isso ela e Flint se relacionam tão bem, de uma forma, os
dois querem o mesmo. Logo, a areia parece ser muito mais apetitosa do que as
coxas quentes e convidativas de sua prostituta pessoal. É simples, será que Max
continuaria atendendo (mesmo que com as mãos somente), se ela fosse a mulher da
vida de Eleanor? Acho que não.
Veja bem, uma série como Black
Sails, precisa ser rápida. Peixe que não nada, morre. Toda a venda da série foi baseada em uma esperança de um
Piratas do Caribe +18, mas a série não é isso e pelo que vi, também não tem pretensão
de ser. É na velocidade que ela vai nos ganhando. A tensão em ir atrás do papel
foi tão grande que eu estava a todo o momento esperando o segundo em que John
fosse ser apanhado por um dos lados (qualquer que seja ele). Luke Arnold está
desempenhando um ótimo trabalho, John Silver é ao mesmo tempo facilmente
relacionável e irritante, sua inteligência e humor conseguem trazer um pouco de
balanço para as coisas que estão acontecendo.
O que está faltando mesmo para
a série são personagens um pouco mais interessantes. Imagino que a revelação de
que o Capitão Flint tem um interesse amoroso e bucólico o esperando nos confins
da ilha, possa vir a trazer um pouco mais de personalidade para ele. Até o fim
do “II” o que eu consegui foi, viver um misto de amor e ódio pelo John, me
apiedar de Max, mesmo sabendo que ela é uma traíra, senti pena dela sendo
enforcada e é claro, detestar Vane e achar que sem ele, a série não seria nada
do que é até agora, dinâmica.
Porém, ainda temos outros
personagens, Eleanor é legal, mas ainda grita clichê a todo momento, assim como
Billy e seu companheiro inseparável que eu ainda nem me dei ao trabalho de
aprender o nome, de tão legal que ele é, ambos são tão previsíveis que eu nem
me consigo me importar tanto assim. Flint é um personagem que não tem muita
liga, passa do Capitão louco para o homem que cita Odisseia de Homero quando
quer fazer valer seu ponto de vista, é estranho e só. Foi mais fácil gostar dos
piratas do Vane do que dos piratas do Flint. Isso não é um bom sinal, já que as
situações eventualmente irão convergir para um lado da balança e esse é o do
Flint. Tudo isso fica mais estranho quando vemos que os personagens baseados em
pessoas reais, Vance, Anne Bonny e Calico Jack, são bem melhores que os
personagens que antecedem Ilha do Tesouro. Calico é de longe, meu Top 5 de
personagens, que dó ver aquelas pérolas afundando, que dó e que ótimo, por que
se tem uma coisa que eu adoro mais do que meus personagens favoritos se dando
bem, é vê-los se atrapalhando e tentando corrigir seus erros.
Claro que ainda é bom ver que
as personagens femininas não perderam a força, continuam tendo uma participação
importante na série e não devem retroceder tão cedo. Ainda me incomoda muito
que a série acabe convergindo para o Ilha do Tesouro, queria que a promessa de
prequel morresse no piloto, mas as vezes eu acho que não será bem assim. A Era
de Ouro tem muito a oferecer, mas eu já consigo ver algumas dicas de como as
coisas vão acabar seguindo, John Silver é citado no livro como tendo uma esposa
de cor, seria essa Max? Essa era uma preocupação que eu não queria ter e que
acaba tirando, para mim, o brilho de muitas coisas que ainda podem acontecer na
série. Dá uma sensação de “já sabia” ou “já era esperado”. Isso me chateia. É
diferente de uma série que é totalmente baseada em um livro de fantasia, como
Game of Thrones, Black Sails poderia ir além da quase adaptação e fazer um
belíssimo trabalho totalmente baseado em personagens reais, que existiram e
tiveram um impacto no mundo.
Logo, a série manteve muito bem
a qualidade e arrisco dizer que foi até melhor agora do que em seu piloto.
Tensão, traição e velocidade mostraram que “II” foi a preparação do terreno
para eventos muito mais grandiosos, mesmo que não seja em ação, serão em
conteúdo e entretenimento, que no final das contas, valem muito mais do que
pérolas negras no fundo do mar.
Um parabéns todo especial para
a equipe que vem desenvolvendo os cenários e a música da série. Tudo tem sido
bem feito e o melhor, crível. É divertido. Isso todas as séries precisam vez ou
outra desempenhar, utilizar o personagem que não fala nada, mas que é bem mais
expressivo que muitos, o cenário.
Mapa na garrafa 1: O nome do
pirata para qual Max estava oferecendo uma mãozinha, nos créditos é Handjob
Pirate. Que indecência.
Mapa na garrafa 2: Vocês viram
a importância de usar camisinha? Ninguém quer ser excluído para uma fogueira
sem graça enquanto todo mundo tá festando na praia, né?
Mapa na garrafa 3: Peito. Peito. Fruta. Fruta. Planta.
Planta. Esqueçam o “Garrafa de Rum”,
esse sim deveria ser o lema de todo pirata.
Mapa na garrafa 4: Não teve barba negra, mas rolou um
bigodinho.
Mapa na garrafa 5: Piratas ao contrário do que se possa
imaginar, não eram desprezados ou párias da sociedade. Muito pelo contrário,
eles eram bem vistos e aceitos em todos os portos. Não pela coroa, claro, mas
pelas pessoas e comerciantes. Imaginem, um pirata rouba uma carga caríssima e a
vende por menos da metade do preço, depois torra tudo o que ganhou com bebida e
prostitutas, devolvendo para o porto todo o dinheiro que receberam.