Emocionalmente pesado.
Contém Spoilers
Quase cem episódios depois, Criminal
Minds retoma o que foi um de seus mais aclamados arcos e parte dele
para construir outro ótimo episódio. É praticamente unanimidade
entre os fãs que o 5x09 foi um dos melhores, se não o melhor
episódio da série. Tudo nele foi muito bem construído, roteiro
praticamente impecável. Foram quarenta minutos sentindo um turbilhão
de emoções. Tensão, aflição, esperança de que o Hotch chegaria
a tempo, esperança de que a Haley não morreria… No fim, após
ouvir o Foyet atirar na Haley, ficamos como os agentes, imersos em um
mar de silêncio. O desfecho foi cruel e era inevitável não
derramar lágrimas diante de toda aquela situação. Encerrava-se ali
o arco do pior serial killer de Criminal Minds.
Como já dito,
aproveitando o clima de aproximação do ducentésimo episódio, a
série busca justamente a trama do seu centésimo episódio e a
explora aqui de uma forma bem reflexiva. Alguns podem até achar que
ficou meio deslocado a inserção dessa trama no começo da nona
temporada e defender que isso já deveria ter sido feito antes.
Porém, mesmo após tanto tempo, a meu ver, a história se encaixa
perfeitamente aqui por dois motivos. O primeiro motivo é bem simples
e tem a ver com o fato de estarmos perto do 200º episódio. Já o
segundo motivo implica em acompanhar e analisar o personagem Hotch
após o evento traumático. Teve-se mais tempo para observar as
atitudes do chefe e, assim, poder entender o objetivo de Route 66.
Depois de passar
mal na sede do FBI, Hotch foi levado para o hospital e lá se
descobriu que as cicatrizes provenientes do seu encontro com George
Foyet estavam causando-lhe uma hemorragia interna. Simultaneamente a
isso, a equipe corre contra o tempo para capturar um homem chamado
Eddie e que supostamente havia sequestrado sua própria filha. Porém,
como vimos no desenrolar dos fatos, a menina queria estar com o pai,
pois preferia viver com ele do que com sua mãe.
Os dois casos são
extremamente semelhantes. Hotch e Eddie passaram por eventos
traumáticos em suas vidas. Aaron por toda a história com o Foyet,
além de ter presenciado a morte de sua ex-mulher, e Eddie porque sua
mãe morreu em seu parto e depois, com cinco anos, ele viu seu pai
cometer suicídio. Entretanto, a maior similaridade entre ambos é
bem mais profunda, e pode ser resumida em uma palavra: perdão.
Enquanto era
submetido a uma cirurgia, Hotchner passava por, digamos, sua
experiência de quase morte. As cenas que se sucederam dessa
experiência foram emotivas e bem bizarras. Hotch e Haley estavam em
um teatro assistindo uma espécie de filme da vida do agente após a
morte da ex-mulher. Era para a Haley estar ali, certo? Mas ela não
estava, e não estava porque tivera sua vida ceifada por George
Foyet. Só que, não havia mais nada que o Hotch pudesse fazer por
ela. Nada mudaria o fato de que ela morreu e o agente precisava
enxergar e aceitar essa condição.
O que era retratado
na série não era a crença depois da morte, a vida depois da morte
ou o perdão depois da morte. Era o perdão para quem ainda está
aqui, para os vivos. Não era o assassino que o Hotch não perdoava.
Ele não SE perdoava. Era como se o Hotchner se sentisse um super
herói, ele precisava salvar sua ex-mulher. Oras, ele que trabalhava
salvando a vida das pessoas, não foi capaz de salvar a vida da mãe
do seu filho. E essa culpa o atormenta e o acompanha desde o
acontecido. Só que, novamente, não existia mais nada que ele
pudesse fazer pela Haley. Entretanto, ele ainda podia fazer algo
pelas pessoas que estavam ao seu lado: os agentes, o Jack e a Beth.
E como interpretar
o Foyet e a Haley em clima de amizade? No momento que ele viu que a
Haley estava feliz e até mesmo em um lugar onde ela olhava por ele
(como num filme), e que ela poderia ter perdoado o Foyet, ele
conseguiu ver que precisava se perdoar. Nosso agente estava muito
ligado ao passado, esquecendo até de si próprio, como se ele
tivesse sido sepultado junto com a Haley. Quando ele percebe que ela
perdoou o assassino, na verdade é como se algo estivesse dizendo
para ele, perdoe a si mesmo. Era a possibilidade do Hotch enxergar
uma vida nova. A partir do momento que ele aceitar o perdão,
começara a ter uma nova visão do ser humano. Enquanto você não se
perdoa, você não se encontra.
O que acontece
depois da morte é pressuposição de cada um. Quando você acredita
em alguma coisa, é mais fácil compreender que tudo pode acontecer,
inclusive o perdão. Esse perdão é interior, não vem do mundo.
Ali, o Hotch buscou o perdão para si mesmo.
Já sobre o Eddie,
ele era um pai que amava de uma forma totalmente errada. Era
criminoso, já havia matado muitas pessoas. Porém, existia um
coração bom nele, ainda que esse coração só tenha sido bom para
sua filha Samantha. A garota preferia ter um pai na cadeia para quem
ela pudesse escrever, visitar e abraçar, do que um pai morto. A
ausência para ela era tão doída que ela conseguia amá-lo com
todos aqueles defeitos. Ela não queria perdê-lo, não queria mais
ser abandonada, e ai, certamente, ele viu que a dor da filha, tudo o
que ele provocara nela, era o que a ausência do seu pai tinha
provocado nele. E a partir do momento que ela volta e diz para ele
que não o deixaria, Eddie se sente importante, porque ele via
naquela menina, que foi a única razão de um momento na vida ele ter
sido bom, a possibilidade de um recomeço. Naquele momento ele também
se perdoa, porque não adianta querer voltar ao passado, como ele
estava tentando fazer. O amor e o perdão da Sammy trouxeram o perdão
dele.
Os dois casos
tratam da cura interior. Eddie matou além de todas aquelas pessoas,
a si mesmo. Hotch fora enterrado com a Haley. E os ocorridos servirão
para que ambos possam se desarraigar do passado. No fim, tudo que a
gente precisa para ser feliz é de perdão e amor.
Uma outra parte
bastante forte desse episódio foi quando a JJ se dispôs a falar de
uma dor íntima e muito profunda para tentar ajudar o Eddie. Era
perceptível que não havia sido fácil dizer aquilo, ter que
relembrar o passado, sentir todas as dores lhe abraçando novamente.
O sofrimento da agente foi nu e cru. Nesses momentos de fraqueza dos
nossos agentes, eu sinto uma imensa vontade de guardá-los todos em
potinhos e esconder do mundo, porque, se tem outra coisa que Route
66 mostrou, é que o mundo, ou melhor, a vida, vai te encher de
porradas, e no meio dessa loucura toda, estar bem consigo mesmo,
estar em equilíbrio, é essencial.
PS: A placa do
carro do Rossi (509 905) no sonho do Hotchner fazia alusão ao
episódio 5x09, que é o da morte da Haley, e a esse episódio.
PS: I'll wait for
the movie. - Morgan <3
E aí, o que vocês
acharam desse episódio?