“Quando bruxas não lutam, somos queimadas.”
A nova temporada de American Horror Story tem um inicio interessante. Ainda que desagrade aqueles que esperavam uma mudança tão significativa como a que vimos entre a primeira e segunda temporada, Coven funciona muito bem em sua proposta.
O show não havia sido nada de espetacular em seu primeiro ano, mas conseguiu cativar com Asylum. A produção de Brad Falchuck e Ryan Murphy obteve êxito ao fazer uma série de horror que ultrapassou o óbvio ao misturar gêneros e criar uma linguagem original para contar suas historias. Por comparação, isso é algo que não ocorre com The Walking Dead, que se limita dentro dos conceitos já estabelecidos do universo dos mortos vivos. Mas o que talvez seja mais interessante em American Horror Story e o modo como seus personagens são sempre figuras erráticas e de caráter duvidoso, algo que se assemelha ao que é feito em Game Of Thrones, nenhum personagem é puramente bom ou ruim, mas age de acordo com o que julgam necessário (Lana Banana que o diga). Estas características são eficientes porque conseguem cativar o publico (as vezes por um estranho sentimento de identificação) e a terceira temporada acerta ao fundar seus alicerces nestas premissas, o Coven em questão é muito mais do que uma reunião de bruxas, é também uma reunião de figuras distorcidas que não exatamente se encaixam na sociedade.
Isso explica em parte todo apelo que a série evidencia, mas também atribui uma roupagem nova e interessante as produções de terror que não se limitam mais a retratar apenas representações abstratas de nossos medos, mas também representações abstrata de quem somos.
Dito isso, Coven ainda mantém muito da bem sucedida formula de Asylum: apóia suas tramas em lendas surgidas de fatos reais e personagens carismáticos, mas sem soar repetitivo ou desinteressante. Além disso, a série ainda mantém a fascinante identidade visual dos anos anteriores sem abrir espaço para comparações, e enquanto as personagens de Frances Conroy e Denis O’Hare parecem saídos de algum filme de Harry Potter, as de Angela Bassett e Kathy Bates não parece viver em universo distinto daquele que vimos em Entrevista Com o Vampiro (e referencias a estas duas obras não é nada ruim).
Bitchcraft é eficiente em estabelecer a mitologia da temporada, a introdução de grande parte das personagens ocorre de forma bem didática – o que por vezes sacrifica a naturalidade dos diálogos – e afirma de forma bem eficiente a diversidade de habilidades que mundo bruxo de Coven possui.
De modo geral a série consegue atender as expectativas e entrega o que foi proposto. Seu foco está mesmo centrado em personagens femininas que devem aprende a lidar com seus poderes e consigo mesmas num contexto extremamente hostil. A começar por Zoe (Taissa Farmiga) que parece assustar a própria mãe ou mesmo o assassinato de Misty Day (Lily Rabe), vitima de um crime de ódio não muito distinto dos que ocorrem cotidianamente aqui fora.
A clara inclinação feminista da série se evidencia no momento que, por exemplo, a personagemMadison Montgomery (Emma Roberts) é vitima de um estupro coletivo de estudantes jogadores de futebol e logo depois obtêm sua vingança ao causa um acidente que mata boa parte dos jogadores, uma pequena retribuição para a bruxa que se não contasse com seus poderes provavelmente seria responsabilizada pelo ato.
E apesar de todo o clima tensão e exclusão causados pelos poderes das moças (algo que remete a X-men), Coven ainda possui uma dose de humor negro, um elemento bem vindo e que a coloca em um nível acima e relação a Muder House e Asylum.
Apesar de alguns erros como a falta de cuidado ao apresentar a personagem de Conroy e não justificar o incrível “fator de cura” de Madison, a nova temporada tem tudo para ser marcante, por apresentar uma premissa envolvente e agradável. E que venha o segundo episódio.