É tão ruim, que eu gostei.
Devious Maids é uma produção de Marc Cherry (o mesmo de
Desperate Housewives), produzido por Eva Longoria (a mesma de Desperate
Housewives) e exibido pelo canal Lifetime, já que a ABC (de Desperate
Housewives), não quis a série para sua grade. A série é baseada na novela
mexicana chamada " Ellas son la alegría del Hogar", algo como elas
são a alegria do lar. Na trama, acompanhamos a vida de 4 empregadas domésticas
de origem latina, tentando realizar seus sonhos na cruel Beverly Hills,
enquanto trabalham para as famílias mais ricas e influentes do local.
Tudo bem, já começamos sabendo que essa série é a promessa
de substituição de Desperate Housewives. Sim, só uma promessa. O sucesso de DH
que lhe garantiu oito anos no ar, foi o fator "novidade", uma série
sobre donas de casa que não eram o modelo das donas de casa que já estávamos
acostumados (perfeitas, prestativas e felizes), eram mulheres comuns, com problemas
comuns e resoluções fora do normal. Tudo isso, ligado pelo mistério da
temporada, o suicídio de Mary Alice Young, que não só nos presenteou com uma
temporada maravilhosa, divertida e picante, como também nos agraciou com a
melhor narradora de uma série até hoje, fazendo com que a voz onipresente e
onisciente de Mary Alice fosse um personagem a parte e muito bem trabalhado,
não só uma voz.
Devious Maids não apresenta nada de novo, além de uma leve
sensação de novidade com o tema abordado. Empregadas latinas, algo muito comum
nos Estados Unidos, mas só lá. Esse é problema central da série, impor uma
classe que só é compreendida pelos norte americanos, local onde milhares de
imigrantes ilegais entram nessa camada do mercado de trabalho, por não precisarem
de um green card para isso. Ao contrário de Desperate Housewives, que trazia o
arquétipo de todo o tipo de mulher diferente, tinha a executiva com filhos, a
que casou por interesse, a que era comum, a que era perfeita (do lado de fora),
a cougar. Não tinha uma mulher que não conseguisse se identificar com uma das
personagens em pelo menos um momento especifico durante oito anos. Mas nem
todas as mulheres são domésticas, nem todas passam pelos mesmos problemas que
essas Devious Maids passam.
Assim como na primeira temporada de Desperate Housewives (e
várias depois), o premiere começa com uma morte. A misteriosa morte de Flora,
que tinha um caso com o patrão o canalha Adrian Powell, casado com a afetada
mulher de aparências Evelyn Powell (a rainha Mab de True Blood). A tentativa de
fazer com que a morte de Flora fosse o choque do momento, falhou, falhou
grande, feio e rude. O tango protagonizado entre o casal maquiavélico e o
misterioso homem que esfaqueia Flora foi tão pobremente executado, que o resultado
final foi perto do amadorístico. Mas,
não é essa a ideia do mistério por trás da morte dessa empregada, a ideia é
outra, criar o suspense, a trama da temporada. Mas isso deve ser apenas o pano
de fundo, o interesse mesmo, tem que ser na vida dessas mulheres, já que o
mistério da temporada acaba com a temporada. Para que as pessoas voltem para o
próximo ano (ou próximos episódios) é preciso que exista um apego aos
personagens, não somente a trama ou o mistério.
E é então que entra a carga emocional, que precisa ser muito
forte para criar a conexão entre o telespectador e o personagem. Por exemplo, a
personagem da Dania Ramizez (a Maya de Heroes), tem um filho que teve que ficar
no país de origem dela e não pode ir para os Estados Unidos, mas que agora, ela
tem a oportunidade de trazê-lo. No momento em que ela conversa com o filho,
aquela cena era a conexão entre a personagem e todas as mães, sendo assim, não
era preciso que a mulher fosse uma doméstica para se identificar com a cena,
nem ao menos era preciso que fosse uma mulher, já que a família que existe hoje
não se limita a mãe e pai, apenas. Só que a interpretação da Dania é tão fraca
e forçada, que mesmo assim, só a patroa dela a ex Lorena de True Blood chega a
quase se emocionar. Quase. E a série perde então um ponto que poderia ser o
fator "me identifico", ou usando o novo meme "me
representa".
Devious Maids não representa quase ninguém. Os cenários são
estranhos, as interpretações são forçadas, não existe mistério já que a
personagem Marissol deixa bem claro que destoa a turma de empregadas e que está
lá por outro motivo. Ela é mãe do menino que foi acusado de assassinar Flora.
No geral, existem poucas coisas interessantes na série. Existe comédia? Claro,
o toque de Marc Cherry está lá, a comédia vingativa, as mulheres auspiciosas,
inteligentes e sagazes, tudo isso já é parte da natureza do roteiro, já
esperamos isso, já que passamos oito anos vendo essas atitudes. Já vimos as
mudanças de roupa, as cenas de mulheres que parecem meigas e nos surpreendem, o
tom ácido e venenoso. Já vimos provamos desse bolo antes.
Essa é uma série que faz o papel de substituta de DH (ou
pelo menos é o que ela pretende), muitos são os fãs que ficaram órfãos depois
do fim emocionante da série, eu sou um deles, escrevi as reviews da última
temporada da série e chorei com Wonderful Wonderful do Johnny Mathis. Então, é bom saber que temos outra série no
ar com esse papel de calçar os sapatos das donas de casa. Mas os sapatos das donas
de casa eram caros, chiques, louboutin do solado vermelho, os calçados das
empregadas são chinelos crocs e galochas, vamos torcer que elas consigam acompanhar
as pegadas das suas antecessoras e fazer melhor, evoluir a formula que amamos.
Potencial tem, só falta empregar isso na tela.